sexta-feira, 29 de novembro de 2019

Teste de Atributo no D&D Old School

Saudações masmorreiros e masmorreiras!

Hoje trataremos um assunto relativamente polêmico: Testes de Atributos/Habilidades no D&D old school.

Há um certo consenso na comunidade OSR de que um dos trunfos da jogabilidade old school é o fato de que testes de habilidade não são requeridos, o que é reforçado pelo fato dessa mecânica inexistir nas versões antigas de D&D. Mas será que é isso mesmo? Há controvérsias. E o ponto gerador de confusão é esse aqui:

B/X Expert

Na página 51 do livreto Expert do D&D B/X, de 1981, escrito por Dave Cook, na entrada Climbing/Escalada, o autor explica a diferença entre a habilidade própria ao Ladino, de escalar superfícies lisas e a habilidade, inata a todos seres humanos (e mesmo não-humanos) minimamente capacitados fisicamente, de escalar coisas.

Mas, ele não para por aí. Cook sugere - assim mesmo, em tom de recomendação - que seja feita uma rolagem de Destreza confrontada com o valor desse atributo do personagem: em outras palavras, há sucesso quando o resultado da rolagem for igual ou inferior ao atributo, a mecânica roll under. Adicionalmente, o próprio Tom Molvay, no livreto Basic (página B60), da mesma série, diz o seguinte:

B/X Basic

O tom utilizado por Moldvay alinha-se ao de Cook. Ambos optam por oferecer essa mecânica como um conselho, uma sugestão ("recommended", "may want") e não como uma regra definitiva.

Testes de atributo só realmente ganham um caráter afirmativo de regra com o suplemento de AD&D Dungeoneer's Survival Guide, lançado em 1986 e de autoria de Douglas Niles. O livro trás o seguinte texto, em sua página 12:

AD&D Dungeoneer's Survival Guide

Antes disso, porém, de forma paralela (pois remetendo a uma mecânica singular, que não encontrou desenvolvimento posterior) em 1984, no livro Companion (página 9 do livro 1) da coleção realizada sob a curadoria de Frank Mentzer, conhecida como BECMI, trás a seguinte mecânica de ability check (com o termo destacado em negrito):

D&D BECMI, Companion

Interessante notar que a escolha de palavras, também aqui ("may apply") evidencia seu caráter opcional, como sugestão de uso. Pesquisando em fóruns de RPG pode-se constatar que essa mecânica, também conhecida como Xd6, parece ser bastante popular entre jogadores mais antigos.

Veredito?

Parece-nos evidente que, em suas primeiras aparições o Teste de Habilidade figurava como uma regra opcional. Só posteriormente que ela passa a ser encarada como regra oficial. 

Porém, não deixa de ser curioso notar que, em um recente e muito elogiado retroclone de D&D B/X, o Old-School Essentials, a mecânica de testes de habilidade roll under surge como regra oficial - ou quase isso.

Old-School Essentials

O autor, Gavin Norman, diz que a utilização ou não dessa mecânica fica a encargo do DM. Porém, deixa bem claro que, seguindo o critério de "balanceamento", optou por mantê-la (textualmente, diz que optou por não excluí-la). Essa opção, parece-nos, vai contra o espírito do Quick Primer, do Matt Finch. Ainda que esse manifesto tenha sido escrito tendo em mente o OD&D em mente, ele, de certa forma, condensa o espírito do OSR.

Em oposição a essa decisão editorial do OSE, o Labyrinth Lord, que é um retroclone do mesmo D&D B/X, opta por incluir o teste de habilidade como opcional. Abaixo destaco o trecho do Advanced Labyrinth Lord (página 107), mas que também está presente na versão original (versão não-Advanced, página 55).

Labyrinth Lord

A decisão editorial tomada no LL parece-me mais acertada e mais alinhada à forma como o jogo era jogado à época - e mesmo se não fosse esse o caso, nada nos impediria de descartar isso, pois não é pelo fato de ser antigo, seguindo essa hipótese, que é necessariamente melhor. Essa talvez seja, na minha opinião, o principal vacilo do OSE. Que, certamente, não apaga seus muitos méritos e, no fim das contas, deixa a decisão final nas mãos do DM - o que acaba por atenuar a questão.

Curiosamente, outro conhecido retroclone desse mesmo sistema, o Lamentations of the Flame Princess, opta por uma rota alternativa: simplesmente ignora a mecânica de teste de habilidade. Tanto no livro do Rules Book quanto no Referee Book não há qualquer menção a ela.

Caso tenham alguma opinião distinta sobre a questão, deixe um comentário abaixo e bora puxar um debate, pois creio ser esse um ponto bastante importante - e, certamente, polêmico - do estilo old school.

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