quarta-feira, 15 de abril de 2020

West Marches de Cavernas Proibidas de Archaia + Entrevista com Carlos Malvadeza

Saudações!

Nessa postagem falaremos sobre um projeto realizado em conjunto pelo pessoal do Regra da Casa e da Câmara Obscura, dando vida ao Regr'Obscura - que também está por trás do excelente D&D Moleque. Trata-se de uma mesa online, estilo West Marches, rodando As Cavernas Proibidas de Archaia (The Forbidden Caverns of Archaia, mais um premiado material do Greg Gillespie).


E esse tal de West Marches?

West Marches, para quem não conhece, foi um jogo realizado pelo Ben Robbins, com os seguintes pressupostos:
1) Não há sessões agendadas, o mestre propõe o jogo e ele acontece se há pessoas interessadas.
2) O grupo ampliado de jogadores, algo em torno de 10-14, não jogarão simultaneamente, mas esse maior volume garante um fluxo maior de jogos.
3) Não há narrativa central ou "plot", os jogadores dão o tom do jogo, em uma jogabilidade estilo sandbox.

Esse estilo de jogo dialoga bastante também aquilo que o Alexandrian designou pelo conceito de "Open Table". Enfim, não pretendo tratar exaustivamente a temática, mas há nisso um importante movimento de resgate de um estilo de jogo que era mais comum nos primórdios do hobby.

West Marches de As Cavernas Proibidas de Archaia

No caso do projeto que estamos tratando é inegável a influência desse estilo de jogo. Mas se, originalmente, esse estilo de jogo tendia para exploração de ermos (na forma de hexcrawl), o pessoal do Reg'Oscura optou por utilizar a megadungeon já mencionada como pano de fundo. Há um episódio do Café com Dungeon em que realiza-se o anúncio do projeto. Não deixem de conferir!


O projeto consiste em quatro mestres (Rafael Balbi, Carlos Silva, Diego Bassinello e Gábner) que alternam-se na missão de ofertar mesas para um grupo de, até o momento, incríveis 147 jogadores! Ainda que nem todos participantes do grupo tenham conseguido jogar ainda. Eu, pessoalmente, fiz minha estréia em Archaia ontem (o que me motivou a escrever esse artigo, com o objetivo de realçar esse projeto maravilhoso!).

A participação dos jogadores têm sido intensa. Há, por exemplo, um log das experiências de todas as sessões realizadas, bem como compartilhamento de mapas feitos pelos jogadores. Pensando nos novatos, há um vídeo-tutorial ensinando o processo de criação de ficha e até um guia com dicas para mapeamento!

Tive o prazer de participar de uma mesa que teve o Carlos "Malvadeza" Silva como o mestre e foi uma experiência fantástica. Nós demos muita sorte e voltamos para casa com 14.000 moedas, o que pode ter ajudado a cimentar essa impressão!. Brincadeiras à parte, a jogabilidade old-school que tanto presamos foi muito bem conduzida e os relatos compartilhados por outros grupos são sempre muito positivos. Mesmo em caso de TPK (Total Party Kills), pois há sempre um novo aprendizado para os jogadores (para os finados personagens, nem tanto! hehe).

Tentando buscar a forma de melhor apresentar esse projeto, contatei o Carlos com a proposta de fazer uma pequena entrevista, levando a ele dúvidas minhas, mas que também poderiam ser de outros. Ele , muito gentil e solicitamente, topou de prontamente! Compartilho no resultado do nosso bate-papo logo abaixo e retomo na sequência.

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Entrevista com Carlos Malvadeza

Falando por mim, mas creio que de forma mais ampla, como todo RPGista que está em busca de aprender e ampliar seus horizontes, sou um fã (e apoiador) do Café com Dungeon. Ouvi com atenção o podcast de anúncio que vocês fizeram sobre o West Marches de Cavernas Proibidas de Archaia, em parceria com a Câmara Obscura, mas, para o eventual leitor que ainda não tiver entrado em contato, você poderia resumir qual a proposta do projeto?

R: Nosso projeto tem uma premissa muito simples, mas não simplória que é a de propagar a jogabilidade do D&D antigo que nós formatamos no D&D Moleque, intitulada Oil Fantasy. É um jogo descomplicado que promove um novo olhar sobre os primórdios do RPG trazendo dinâmicas modernas que fazem com que a jogabilidade seja fluída, espontânea e intuitiva. Resgatando um RPG simples onde o jogador trabalha com sua imaginação e capacidade analítica ao invés de precisar decorar e aplicar regras e parâmetros de ficha. Estamos buscando trazer o RPG em sua forma mais lúdica, espontânea e descontraída a todos. A mesa é aberta e qualquer pessoa que quiser entrar nela é bem vinda a se juntar a nós para jogar RPG e compartilhar umas boas risadas e conquistas. O link para nossa mesa é: https://chat.whatsapp.com/LhXmTLFNaNR7z4nNkddlSN

O material base que vocês estão utilizando é o Forbidden Caverns of Archaia ("Cavernas Proibidas de Archaia", em tradução livre), do professor universitário e designer canadense Greg Gillespie. Como tem sido a experiência de trabalhar com esse material?

R: Muito desafiadora, segundo o próprio autor o material é para mestres de jogo experientes. O cenário é muito rico e possui uma quantidade de possibilidades quase que infinita, em 43 jogos sequer exploramos 5% do material, o que é muito bom. A "lore" do cenário é muito bem pincelada passo a passo, pouco a pouco através das dungeons e é notável que o quebra-cabeças tratado no cenário vai ganhando luz e consistência na mente dos jogadores a cada nova partida. Um dos pontos de destaque do material é seu tecido político altamente denso e rico. Entre tantos outros materiais escolhemos esse justamente por este último tópico: o tecido político. No D&D antigo prezamos por evitar combates e essa dimensão do trabalho político dos jogadores é de suma importância para garantir que a textura do jogo está aderente ao estilo que batizamos como Oil Fantasy.

Do ponto de vista do sistema de regras, recentemente participamos de um debate bem bacana no grupo do OSR Brasil (WhatsApp), em que se falou sobre o Old-School Essentials, o Labyrinth Lord e, mais especificamente, em como o Advanced Labyrint Lord, por ter inspirado e embasado o material do Greg Gillespie, acaba se tornando uma referência necessária. Com a rodagem que você adquiriu mestrando esse retroclone, é possível dizer que o Advanced Labyrinth Lord é a versão mais robusta de D&D Old-School do mercado?

R: Sim, dentro do meu ponto de vista. Ele tem uma curadoria muito interessante em trazer o necessário do AD&D para o b/x sem sobrecarrega-lo. Como uso o livro principalmente como mestre ainda não passei um pente fino nas classes novas que ele propõe. Muitas vezes essas classes do AD&D podem imprimir um sabor amargo nas mesas jogadas segundo os princípios do Quick Primer do Matt Finch levando o jogador a rolar mais dados e refletir menos, em breve vou revisar com cuidado cada classe do livro e quem sabe entrar em conferência com os outros DMs no sentido de liberar mais classes caso elas sejam aderentes ao QP. No mais tenho acreditado que PARA ESSA MESA, o Advanced Labyrinth Lord seja o livro que endereça melhor a narrativa que estamos buscando.

O projeto consta com você, com o Rafael Balbi, o Diego Bassinello e o Gábner como mestres. Recentemente, devido à demanda crescente, vocês têm anunciado que estão a procura de novos mestres para compor o time. Como tem sido esse processo?

R: Muito mais lento do que gostaríamos, e é normal que assim seja. Queremos mestres que sejam jogadores. Não compramos a ideia do mestre que quase nunca joga, esse cara não tem o ferramental necessário para trazer à tona a responsabilidade mais notável do DM que é buscar imprimir o melhor desafio possível aos jogadores. Esperamos que do nosso grupo de jogadores assíduos apareçam pessoas dispostas a mestrar conosco para que a oferta de mesas cresça consideravelmente. Para que a pessoa possa se juntar ao grupo de mestres é simples: ela precisa ter jogado bastante, ter um entendimento razoável do Quick Primer for Old School Gaming e estar disposta a ser mentorada e assessorada pelo time de DMs existente para que ela consiga tratar com fluidez do nosso estilo Oil Fantasy de conduzir RPG e, por último, mas não menos importante, ser diligente, justo e transparente. Nosso jogo não possui truques, ilusões de ótica ou enganações, literalmente tudo é rolado em vista clara para todos verem, inclusive encontros aleatórios, reações e testes de moral. Trabalhamos para que os jogadores tenham uma base limpa para criar e parte desse processo é ter todas as rolagens às claras, afinal de contas RPG é um jogo e embora os manuais informem da possibilidade de rolar escondido acreditamos que a ética de jogo e transparência devam reinar em uma mesa e que o DM é peça chave em liderar e dar o exemplo acerca disso.

Por fim, tem algum recado, ou, de repente, deseja abordar alguma questão que minhas perguntas anteriores não cobriram? Enfim, fique à vontade para passar sua mensagem!

R: Meu recado é na verdade um chamado: venham jogar com a gente e fazer parte de nosso grupo! Todas as pessoas que vierem na paz serão bem vindas, prezamos por ter pessoas de todos os perfis, com diferentes histórias de vida e motivações conosco. Nossa mote é respeito acima de tudo e excluir do grupo os que não pensem dessa forma sem qualquer aviso ou notificação. Nosso ambiente de jogo é bem humorado, tranquilo e aberto a todos de qualquer nível de experiência com RPG, novatos e veteranos são todos mais que bem vindos!

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Retomando

Bom pessoal, acho que é isso. O Carlos transmite de forma bastante clara e direta o que posso testemunhar como participante direto do projeto. E reforço as palavras dele: cheguem lá no grupo, são muitas oportunidades de jogo, em vários horários possíveis (inclusive ocasionalmente rola sessão corujão!). É tudo 100% gratuito e está fantástico. Cheguem lá!

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